É com carinho que Marcelo Tas fala sobre Silvio Santos. “O Silvio é o primeiro grande comunicador que eu vi ao vivo, minha mãe me levou para ver quando eu era criança, no auditório da TV Tupi, no fim dos anos 60. Ele é o cara que eu acompanho há mais tempo como telespectador e, depois como profissional”, diz o jornalista e apresentador do “CQC”.
Ele falou com a Folha sobre a fase atual de Silvio Santos, que tem gerado momentos engraçados, bizarros e polêmicos –vários deles acabam sendo usados por Tas no “Top 5″ de seu programa na Band.
O que está acontecendo com Silvio Santos atualmente?
Marcelo Tas - Eu acredito que, quando a gente vai ficando velho, nos aproximamos da criança que fomos. Acho que é isso que está acontecendo com o Silvio, o que é muito saudável. A diferença é que ele é o dono do canal, então ninguém vai dizer para ele não fazer isso. Para a gente, é muito divertido, mas, ao mesmo tempo, é uma coisa que às vezes é muita constrangedora para ele próprio. Esse episódio da calça [em que as calças do apresentador caíram durante o programa], eu até achei que ele tinha montado isso, porque ele é muito esperto. O programa está sem assunto, ele vai lá e ‘pum’, a calça cai e vira assunto. Mas eu estive com a Patricia [Abravanel] recentemente, e ela me confirmou que a calça caiu mesmo e ele não percebeu. Eu acho uma coisa tocante, bonitinha, ele está velhinho mesmo.
E episódios como o do “vou dar o rabo”, que você colocou no “Top 5″ do “CQC”?
Às vezes, algumas piadas esbarram na grosseria, são agressivas com os convidados. Não deveria haver algum limite?
Em que sentido?
Ele não tem um sucessor, não como pessoa física, mas como pessoas jurídica. O SBT não criou uma cultura de telejornalismo, ou mesmo de humor e de entretenimento. Qual é o legado do Silvio Santos, a não ser ele próprio, o que ele fez? Você pode não gostar, mas a Globo tem uma cultura de jornalismo, de teledramaturgia, não depende de a, b ou c. A Band é a mesma coisa, tem uma cultura de telejornalismo, de esporte, agora de humor. Isso é o que eu chamo de cultura televisiva. E o SBT não conseguiu isso. Mesmo o que existe hoje lá é resultado de outras iniciativas pessoais, como “A Praça É Nossa”. O jornalismo já teve Boris Casoy, Serginho Groissman, Jô Soares, Marilia Gabriela, mas não deixou um legado televisivo. Essa é a falha trágica do Silvo, para mim. Ele é um gênio como comunicador, mas, na minha opinião, não conseguiu transmitir esse legado de gênio da comunicação para a pessoa jurídica dele.
E como você vê o processo que ele moveu recentemente contra o “Pânico”, para que eles não o imitassem mais nem se aproximassem dele?
Olha, não é cara dele. Ele sempre tratou com muito bom humor essas brincadeiras com ele, tanto as do “Pânico” quanto as do “CQC”. Eu creio que isso deve se dissolver, deve ter sido um dia infeliz, não acho que seja muito da natureza dele. Quero crer que foi um dia em que ele acordou com o pé esquerdo, ele é um cara bem humorado, sempre tirou de letra essas coisas. Até porque é evidente que a imitação é uma homenagem. O “Pânico” levou o Silvio para uma geração que nem o conhecia, essa molecada da internet.
Fonte: Boa Informação
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